quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Arte é pergunta e Crítica é resposta.
Arte é a pergunta feita de formas inúmeras. Quem a faz é o artista, a resposta fica ao prazer da crítica. Muitas vezes é dita sem o som das palavras, sem a luz da visão. É de uma outra dimensão invisível? E como se já estivesse sempre ali no espaço vazio vem surgindo e se materializa no ato da diferenciação. O indivíduo singular repleto de vontade e de uma expressão oculta, múltipla, coletiva, toma pra si essa energia transformadora, que gestante vem de um “nada”, vira etérea, gasosa e líquida, e, nunca de repente, se solidifica. Todos devem ser artistas, pois a arte é um estado comum do ser. Vejo o rosto e as mãos do velho florista, o “bouquet” ficou lindo. Sou eu no papel de crítico. É ele no papel do artista. Eu escrevo, ela dança, nós moldamos, eles pintam. “Zwei e Zweifel - dois e dúvida. O elo entre estas palavras vai além da simples aliteração. Onde há dois não há certeza. Quando o outro é reconhecido como independente e não como extensão, a incerteza é reconhecida e aceita. Ser duplo significa consentir em indeterminar o futuro”. Amor Líquido de Zygmunt Bauman. O passado descrito em teorias que afetam e tranformam deixando claro e simples. A materialização de um conceito nos possibilita ser esses dois, critico e artista, não nessa ordem. E o tempo, senhor das nossas trevas, a cada instante nos avisa “sou isso ou sou aquilo”. É a vida, sentido simples da nossa existência exposta na rua, no lar, na galeria (...) então, por obséquio, o que fazemos senão buscar a luz ou mergulhar na escuridão? Alcançar ao menos num momento a contemplação da plenitude. Naquele momento sublime, eu no papel do ser crítico, amedrontado por ser mínimo, e, encaro em meu silêncio escuro apenas as minhas perguntas. Sou artista? Porque faço crítica? Posso ver o invisível? Como expôr o que eu sinto? Quanto tempo terá minha vida? Acabou o sentido de ser dos “ismos”? Indivíduos já não se uniam em redes coletivas? Aquele que sozinho se sente único e sem que ele perceba a gente o encontra num igual do outro lado do mundo. Agora. "A arte não espelha a vida. O artista não reproduz, produz. Cria a vida tal como ela não existia antes dele". Dostoievski. Na memória subversiva pós-contemporânea. Ser Humano, nós podemos transformar tudo em nada e até mesmo o que parecer invisível voltar a ser imagético, tátil, sensível. E diante da visibilidade catalisada em fragmentos dos sonhos, subverter as possibilidades imaginárias de criar um verbo cônscio "Arter". Eu arto; Tu artes; Ele arte; Nós artemos; Vós arteis; Eles artem. Tens o poder para experimentar todos os tipos de suporte para isso (...) É a história da arte que compartilha o que é belo e feio com o mundo. E os mortais desprovidos dos conhecimentos teóricos e que não são estudiosos de arte não entendem nada, entra pelos olhos e sai por onde? Deixas de ser criatura para tornares criador. Recebes o tempo e o espaço para transportares, pois agora existes. O código da causa foi decifrado e por conseqüência estão todos aqui. Entre a escolha e a certeza podes ler o que você diz. Podes sentir o que você faz. Podes criar. Simplesmente porque sois copia do vosso ser. Porque vedes em cada luz que se apaga e em cada espaço que se preenche com nada. Nesse vazio, forjas deuses a vossa imagem e projetas vossos sonhos em obstáculos. Sois transgênicos e transmeméticos, observais e sois observados, canibais da vossa própria cultura magnética, naquele infinito que o inverno vem depois do outono. Sois todos iguais. Todos expulsos da proteção cósmica uterina e forçados a gritar; alguns não conseguiram. Percebestes então que havia algo mais. As mãos manchadas de sangue tocaram uma rocha. Eras tu aqui marcando esse lugar. O primeiro veículo de comunicação celular, numa única mancha a informação foi deixada pra trás. Um dia alguém a encontraria. E encontram sim, rochas imensas manchadas de sangue, pigmentos de argila e seiva natural, simbolizando a vida de um momento eternizado. E o tempo, lembra aquele que vos foi dado? Passou. Por milhares de invernos que depois de outonos viram mais uma vez um por do sol. E hoje um novo dia nasceu e aquela mão manchada de sangue, tocando uma rocha na gruta, representa a singularidade da vossa informação genética e memética, decifrada por vossa própria sabedoria, lembra? Tens o poder da criação. Vós depositastes naquele espaço vazio, um oco, invisível, nesse espaço um pouco do que eu vi. Toda a vossa informação singular. Deixadas como rastro, aqueles que pensaram e transmitiram suas idéias subversivas através dos tempos, criaram. Na memética, alusão de Richard Dawkins, as habilidades manuais foram acompanhadas pelas habilidades intelectuais, e, literalmente ambas manipularam e subverteram toda a nossa informação (...) segue ao futuro. Dois mil e doze. O futuro mandará notícias: Um talho rompeu sobre a terra. Uma fenda enorme se abriu, separou as profundezas do firmamento. Refez o mundo ao contrário. O vazio engoliu os protocolos dos sábios de Sião. A vida, as manhãs, os tons de azul, o medo, a paixão, o horizonte e a cruz. O que não resistiu foi lançado no abismo. Ficaram no ar, as cores do céu e nuvens brancas de papel. O misterioso momento antes da criação. Vislumbre dessa imagem em tudo e nada. Uma nova oportunidade para recriar o tempo e o espaço, vida e arte. Volta a ser disponível a experiência múltipla, mas singular, repleta de memória coletiva que novamente romperá na inquietude, no diminuto gesto da desconexão. Expulso mesmo estando fixo, desde o primeiro instante, agora: Síntese, glória fúnebre. Assim ressuscitou, em verdade ressuscitou, pois a eterna Luz continua acesa. Ocupando espaços, na busca do limite sem dimensão, eles buscam numa forma de arte colaborativa o que não é visível. Permitem o reencontro entre o espectador, parte viva da obra e o artista que reverbera a causa primordial da criação. “O que supera não é melhor do que antecede”. Paulo Sergio Duarte (Palestra na exposição - Tempo Tempo Tempo 2010 - EAV). Debruçaram-se nos livros e encontraram justas comprovações em Jorge Luis Borges. ”(...) Vi a circulação de meu escuro sangue, vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph, e no Aleph a terra, vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto esse objeto secreto e conjetura cujo nome usurpa os homens, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo.” (O Aleph – 1949) E inspiraram-se nos longínquos sentimentos poéticos e filosóficos de Antoine de Saint-Exupéry. “O essencial é invisível aos olhos” (O Pequeno Príncipe – 1943) e na explosão cósmica, consolidada na transformação do tudo em nada, no lapso do tempo que irradia ao espaço o seu reflexo multidimensional da criação na obra de Aleksandr Rodtjenko (Construções Espaciais – 1929). Dois mil e dez. Uma mensagem vibra no toque de um celular. ”INVISÍVEL”: Manifesto da subversão que se move. Guarda em si a metainformação. É singular, transferível, manipulável, contemplativo. O berço fecundo aceitou a conexão. Engoliu a semente dos conteúdos encodificados na memória que emanam da mesma Luz. E simplesmente assim, na obra deles, se refletiu.
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